Cartas do Arcebispo aos Catequistas
2021
“Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39)
Caros catequistas,
A expressão daquele homem que não fazia parte do povo eleito – um pagão, um soldado romano – aos pés da cruz reconhecendo no crucificado o Filho de Deus é para nós inspiradora. Contemplando o Crucificado, os olhos daquele homem se abrem, ele vê a luz e reconhece a realidade! Reconhecer e “ver o Senhor é vir à luz: de fato, a vida do ser humano é a visão de Deus” (S. Irineu).
O ano de 2020 foi marcado pela irrupção de uma noite escura sobre toda a humanidade. De repente nos vimos ameaçados por um vírus ágil e perigoso, que colocou em crise a nós e nossa ação evangelizadora.
A crise continua afetando a todos, provocando medo, angústia, incertezas e desequilíbrios. Se por um lado ela traz dificuldades objetivas a catequistas e párocos (reunir com segurança os catequizandos, celebrar os ritos de entregas na comunidade que celebra presencialmente a fé, carência de recursos técnicos para continuar atendendo à distância os catequizandos), por outro lado impulsiona a construir com ousadia e criatividade novas oportunidades. Não faltaram e não faltam exemplos de ousadia e criatividade!
A pergunta que, talvez, muitos se fazem é: Para onde vamos? É possível, é recomendável dar continuidade ao processo da Iniciação à Vida Cristã em nossas comunidades nestes tempos de pandemia? Tais perguntas tem, sim, sua importância. Devemos reconhecer que estamos vivendo uma experiência incômoda e, por vezes, dolorosa. Contudo, somos vigorosamente chamados a entender que a comunidade de fé é constituída de muitas comunidades familiares. Está sendo, pois, oferecida a nós, uma oportunidade característica para resgatar também da família, igreja doméstica, a responsabilidade primeira no processo educativo da fé.
Merece reconhecimento, gratidão e destaque a dedicação e o empenho de tantos catequistas e familiares em acompanhar os que se dispõem a prosseguir o caminho do processo de Iniciação à Vida Cristã. Neste sentido, vale destacar que não nos é permitido impedir a ação do Espírito de Deus. É preciso favorecer, criar oportunidades para avançar no itinerário catequético inaugurado com a disposição, o entusiasmo e o empenho de muitos.
Possíveis resistências ao processo iniciado há cinco anos expressam resistência pessoal à ação do Espírito, além de condenação a ficar sós e estéreis, obstaculizando assim a obra da graça de Deus.
Ergamos o nosso olhar! Não tenhamos medo da crise! Acolhamos os sinais do tempo presente; eles requerem de nós coragem e inteligência para desenvolver os instrumentos adequados para prosseguir anunciando a riqueza e a alegria do Evangelho, e de pertencer à comunidade de fé – a Igreja!
Este é um tempo de graça que nos é oferecido para compreender a vontade de Deus para todo ser humano. Pode parecer difícil se inserir ‘na lógica, aparentemente contraditória, de que, quando sou fraco, então é que sou forte (2cor 12,10)”. Não esqueçamos: Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para suportar (1Cor 10,13)’ (Papa Francisco).
Os desafios do tempo presente pedem de nós oração, escuta e contemplação. Rezar significa cultivar o diálogo com o Senhor, mesmo que seja cansativo. No cultivo da intimidade com o Senhor por meio da escuta e meditação de sua Palavra, haveremos de encontrar indicações viáveis e seguras para avançarmos para ‘águas mais profundas’ (Lc 5,4). É o próprio Filho de Deus que nos exorta a avançar.
Avancemos! Não nos deixemos influenciar por saudosistas de um passado que não mais existe. Rezemos uns pelos outros. Participamos todos da mesma missão: Evangelizar!
Interceda por nós e nos inspire a Mãe de Deus, primeira catequista e padroeira de nossa Arquidiocese.
2020
Queridas(os) catequistas,
Desejamos, por meio do processo de Iniciação à Vida Cristã, renovar a vida de nossas comunidades. Para isso precisamos avançar no caminho assumido com decisão, coragem e criatividade. Sabemos que esse processo, fundamentado na Sagrada Escritura e na Liturgia, é capaz de educar para a escuta da Palavra, para a oração pessoal e para o compromisso comunitário e social. Por isso, não podemos nos deixar influenciar por quem ainda não se dispôs a seguir esse itinerário. Uma coisa deve inquietar e preocupar nossa consciência: a constatação de que há muitas pessoas “que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida” (Papa Francisco).
O caminho da Iniciação à Vida Cristã, que não se esgota na preparação aos sacramentos, é para nós como uma bússola, orientando as diversas iniciativas pastorais de nossa Arquidiocese. O que fazemos está marcado pela energia escondida do Evangelho, capaz de transformar a pessoa, de proporcionar autêntica alegria, enchendo o coração e a vida inteira de quem se encontra com Jesus.
Todos são convidados a renovar o encontro pessoal com Cristo e deixar-se encontrar por Ele. Esse encontro nos transforma, conduzindo-nos ao discipulado e engajando-nos na vida comunitária. Trata-se de uma experiência de fé que nos faz ir ao encontro de quem não está conosco, de quem se dispõe a ser iniciado na vida cristã.
Como Igreja sentimos o que significa o desafio de transmitir integralmente a fé no interior de uma cultura em rápidas e profundas transformações. “Uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois de nossa passagem por ela” (Papa Francisco).
Sabemos ainda que o método da Iniciação à Vida Cristã requer a reformulação da estrutura paroquial, catequética e litúrgica. Envolve toda a comunidade: presbítero, diácono, catequista, equipes de liturgia, caridade, famílias, todos sem exceções! Requer ousadia e coragem para abandonar o tradicionalismo e o comodismo, com suas práticas que não correspondem àquilo que o Evangelho do Crucificado-Ressuscitado espera de uma comunidade constituída de autênticos discípulos e discípulas. Esse é o modo para renovar nossas comunidades, nossas Paróquias! Isso implica a necessidade de formação permanente para todos, da construção de espaços de encontro, de visitas aos pais dos catequizandos, de preparação personalizada para a celebração do Batismo e de continuidade no itinerário iniciado.
Reconhecemos e agradecemos a dedicação de vocês. Rezamos nas intenções de vocês. Pedimos que também rezem por nós. Nossa missão é única: evangelizar! Sabemos que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa.
Pedimos que Maria, a primeira catequista, guie e acompanhe nosso itinerário, para que possamos fazer tudo o que seu Filho nos disser!
2019
Prezado(a) catequista,
Vós sois as testemunhas destas coisas” (Lc 24, 48)
"Este é o caminho, avancem" (Papa Francisco). Esta foi a expressão usada pelo Papa Francisco quando, em 2015, soube do processo catequético iniciado em nossa Arquidiocese.
Com o empenho de tantos(as) catequistas estamos fazendo um caminho que já oferece sinais de esperança, onde a proposta foi assumida com coragem e determinação.
O processo de iniciação à vida cristã exige de todos decisão, coragem e criatividade. Trata-se de um caminho que promove a identidade dos discípulos e discípulas do Senhor, renova a vida comunitária e desperta seu caráter missionário.
Urge avançar para águas mais profundas. Não podemos nos sentir satisfeitos com os passos já realizados. Há uma multidão que não teve oportunidade de ouvir falar mais intimamente de Jesus Cristo. Há batizados que não tiveram a oportunidade de realizar uma experiência mais intensa de Jesus Cristo e seu Evangelho. É por isso que estamos propondo para o ano de 2019, a começar após a Solenidade de Pentecoste um itinerário discipular em primeiro lugar para as lideranças das comunidades, mas também para todas as pessoas que desejarem realizar um itinerário de formação para o discipulado.
O objetivo da vida cristã é a santidade. Neste contexto vale lembrar o que diz o Papa Francisco: "Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante.
Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou - por outras palavras - da «classe média da santidade» (...) ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo" (Gaudete et Exsultate n. 6-7)).
Reconhecemos e agradecemos a resposta das(os) catequistas que responderam ao chamado do Senhor para trabalhar na sua vinha, especialmente junto a adolescentes e jovens. O desejo comum é que Jesus Cristo seja sempre mais conhecido e seu Evangelho chegue a todos.
Não tenhamos medo! Junto, em comunhão, continuemos em nossa missão de transmitir o Evangelho a todos, pois ele nos proporciona alegria; alegria que enche o coração e a vida inteira de quem se deixa encontrar por Jesus.
Pedimos a Maria, catequista da primeira hora, que nos inspire, guie e acompanhe em nossa missão, para que possamos sempre ouvir e fazer tudo o que o SENHOR e MESTRE nos disser!
Porto Alegre, 18 de março de 2019
2018
Prezado(a) catequista,
O processo da Iniciação à Vida Cristã, isto é, da transmissão da fé às novas gerações, avançou de modo significativo na Arquidiocese. O caminho realizado é expressão do empenho e dedicação de catequistas, lideranças, clero e consagrados. A todos que têm cooperado para que muitos possam participar da alegria que vem da fé, o nosso reconhecimento e gratidão.
Agradecemos o 'sim' de nossos (as) catequistas ao chamado do Senhor para trabalhar na sua vinha, testemunhando e promovendo a unidade. Embora atuando em diferentes realidades e respeitando suas características, desejosos(as) de sempre mais e melhor trabalhar para que o Evangelho chegar a todos.
Continuemos avançando no caminho assumido por todos. O objetivo é formar discípulos de Jesus Cristo, vivendo e convivendo em Comunidade. Há um desafio sempre presente: fortalecer o senso de pertença e corresponsabilidade pela promoção da própria comunidade, segundo os critérios do Evangelho.
Sabemos que:
a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Aqueles se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria (Papa Francisco).
Por isso, nos engajamos neste trabalho da transmissão da fé, pois queremos levar outros, especialmente os adolescentes e jovens, a experimentar a alegria que o encontro com o Senhor e seu Evangelho proporciona.
Estamos vivendo o Ano do Laicato. A Igreja do Brasil convida os leigos a serem 'Sal da Terra e Luz do Mundo' (Mt 5, 13-14), como sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino. Queremos, assim, animar nossos (as) catequistas para aprofundarem sua identidade, vocação, espiritualidade e missão, para testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade'.
Há na Igreja diferentes dons e carismas. No entanto, todos têm a mesma dignidade, pois participam da filiação divina e são chamados a serem santos. A vocação universal à santidade é para todos. O mundo precisa de santos!
Pedimos que Maria, a grande catequista de todos (as) nós, guie e acompanhe nosso itinerário, para que possamos sempre ouvir e fazer tudo o que o MESTRE nos disser!
Porto Alegre, 11 de março de 2018.
2017
Prezado(a) catequista,
A Iniciação à Vida Cristã é um processo de transmissão da fé às novas gerações. É um caminho que envolve toda a comunidade, por meio do qual o catequizando progressivamente vai sendo conduzido no seguimento de Jesus Cristo.
Nas comunidades onde se está implantando o processo da Iniciação à Vida Cristã, já se evidenciam alguns indícios positivos e belos. Outras ainda estão buscando as condições necessárias para assumirem esse processo. É importante dele se apropriar não como uma novidade qualquer, mas como caminho privilegiado para propor Jesus Cristo e seu Evangelho.
Na catequese, vamos apresentando aos que dela participam um caminho de vida. Trata-se certamente de um caminho relevante, pois tem como objetivo maior a união com Deus. Isso pressupõe permitir que Deus possa agir em nós e, ao mesmo tempo, corresponder ao seu amor.
A dedicação e o empenho de tantas (os) catequistas é sinal de que se acredita na proposta. Não podemos, todavia, cair na tentação de pensar que podemos atingir um número sem fim de adolescentes, jovens e adultos. Podemos, sim, proceder sempre e de novo de tal modo que seja o Espírito Santo a inspirar e orientar nosso empenho. A expressão “sempre e de novo” significa apresentar Jesus Cristo e seu Evangelho constante, reiterada, insistentemente e de forma atual.
No final do trabalho realizado, não somos nós que devemos brilhar, mas Deus e a sua graça. É Deus que age nos corações! Nós somos meros instrumentos da bondade e da misericórdia divinas.
Jamais podemos esquecer o que Jesus quis, ou seja, discípulos que o seguissem, que vivessem como ele viveu, anunciando o Reino de Deus e sua justiça. Por isso, no centro de nossa catequese, deve sempre estar presente a pessoa de Jesus Cristo.
Jesus Cristo pede de nós familiaridade com ele. Pede que permaneçamos no seu amor, que estejamos com ele, que o escutemos e aprendamos dele. Daí a necessidade de cultivar a intimidade com ele através da leitura de seu Evangelho, da oração, do silêncio. Tal intimidade nos conduz a sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro. Quando saímos de nós mesmos, deixamos de ser o centro! Se colocamos Jesus Cristo no centro de nossa vida, então ele passa a orientar nossas iniciativas e decisões. Quando permitimos ao Senhor agir em nós, ele nos conduz por caminhos até então inimagináveis, pois sempre ultrapassa nossos esquemas e nossas estruturas.
Todos nós, que acreditamos nas palavras de vida eterna que Jesus propõe, não podemos nos deixar conduzir pelo medo ou pelo comodismo, nem pelo fechamento em nós mesmos ou pela rigidez excessiva.
Nós cremos que a Palavra do Senhor é espírito e vida. Cremos que o Espírito Santo é capaz de fazer novas todas as coisas. Acreditamos que nosso povo tem sede de Deus! Por isso, nos empenhamos para, através da catequese, a todos propor o Evangelho de Jesus Cristo – ele “que andou por toda a parte fazendo o bem” (At 10,38) e que “fazia bem todas as coisas” (Mc 7,37).
As (os) catequistas tornam visível o Evangelho, despertam a atração por Jesus Cristo e pela beleza de Deus!
Que a Mãe de Deus, catecismo vivo e modelo de toda (o) catequista, interceda por todos os que se dispõem à missão de cooperar no anúncio do Evangelho a toda criatura.
2016
Prezados Catequistas,
"Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça" (Jo 15, 16)
Todos os grandes momentos de renovação da vida da Igreja, de manifestação da ação do Espírito Santo, estiveram relacionados com a catequese (CIC 8). A Arquidiocese de Porto Alegre está vivendo um momento de renovação. Este é um tempo propício para o anúncio do Evangelho. E você, meu irmão catequista, possui uma missão fundamental. Você é nosso cooperador direto no processo de renovação da vida paroquial porque foi o próprio Senhor quem o chamou.
Essa renovação brota de um encontro com uma pessoa concreta: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho de Deus vivo, que, com sua vida, nos salvou e nos deixou um caminho de seguimento. Este caminho contido na Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica que transformou a vida de milhares de pessoas ao longo da história, com certeza mudou a minha vida, e está transformando a sua. Este caminho pode encantar e transformar a muitas outras pessoas, enchendo-as de sentido, enchendo-as de vida e dando-lhes vida eterna.
Olhando para a vivacidade e o poder de atração das primeiras comunidades cristas, estamos bebendo nas fontes do cristianismo ao propormos um método de iniciação à vida cristã com inspiração catecumenal, que, centrado na leitura orante da Palavra de Deus, unindo Catequese e Liturgia, Palavra e símbolo, o visível e o invisível, quer conduzir às pessoas ao mistério Divino, a um encontro pessoal com o Senhor, porque cremos que Deus se deixa encontrar por aqueles que o procuram.
Nosso anúncio deve ser atrelado ao testemunho de vida. Assim estaremos proporcionando um caminho mistagógico, de introdução ao mistério da fé no Deus Uno e Trino. Caminho que "cristifique" as pessoas (T. Chardin), convertendo-as, transformando-as desde dentro, provocando a adesão do coração.
Meu irmão catequista, a partir de hoje, com este envio que abre nosso ano catequético, e desde que nos mantenhamos em comunhão: nós somos um, você é um conosco, e nós somos um contigo. E desejamos que, com o seu trabalho, cada catequizando se torne "um dos nossos, enxertado no corpo mistico de Cristo. Isso é comunhão eclesial: o que Jesus pedia ao Pai "que todos sejam um" (Jo 17, 21) para que o mundo creia. Um mesmo Espirito nos moverá e nos dará uma mesma Palavra e um mesmo coração (At 4, 32). Deste processo dependerá o surgimento de uma nova geração de discipulos missionários de Jesus Cristo, que com suas vidas atrairão o Reino de Deus para que se instaure um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1).
Não estamos sozinhos, a grande mestra do caminho de seguimento, a Mãe de Deus e da Igreja, está conosco anos abençoar e motivar.
Catequistas, mestres no caminho da iniciação cristã, "ide e inflamai a Arquidiocese de Porto Alegre com o fogo do amor de Deus